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Depoimento de Campos Neto no Senado atesta falta de coerência lógica do BACEN

‘Modelinhos matemáticos do BC não têm relação com a realidade’, diz economista

ABRADIN
Aurélio Valporto
25/04/2023

Petrobras

As falas do presidente do  presidente do Banco Central no senado comprovam que o raciocínio da autarquia sobre o processo inflacionário carece de um mínimo de coerência lógica, mas pelo menos passou a entender que juros altos combatem apenas inflação de demanda. 

A partir disso procurou sustentar que a economia brasileira - à beira da recessão, com indústrias demitindo e dando férias coletivas - está com excesso de demanda em relação à sua capacidade de oferta. Como exemplo apontou que bares e restaurantes voltaram a encher, sem observar que cerca de 40 % dos bares e restaurantes tiveram prejuízos em pleno fevereiro, més de Carnaval. Ademais, bares e restaurantes prestam serviços de baixo valor agregado e dependem de baixos investimentos. Por isso a elasticidade do setor é enorme, ou seja, é um setor capaz de ampliar a oferta muito rapidamente. Nesse segmento um eventual excesso de demanda é positivo e atendido pelo pronto aumento da oferta. Em resumo: um argumento péssimo para confirmar uma teoria falha. Mas o auge da desconexão lógica veio quando afirmou que a desoneração dos combustíveis é temporária e por isso os combustíveis devem voltar a pressionar a inflação. Ora, combustível é energia, e aumento da energia provoca inflação de custos que vem, necessariamente, acompanhada de redução da demanda. Portanto, de forma alguma se justificam juros altos que venham a pressionar mais ainda os custos da economia.

De fato, já vemos há muito tempo a falta de coerência do raciocínio econômico do Banco Central. Baixou demasiadamente os juros no início da pandemia, quando a recessão estava se instalando por conta das quebras das cadeias de produção provocadas pelo "lockdown". É evidente que as taxas de juros baixas não iriam resolver esse problema, mas ajudaram na disparada do Dólar que foi uma das principais causas da inflação de custos que veio em seguida. Depois elevou de  maneira descontrolada os juros quando a inflação era de custos, causada pelos aumentos do petróleo e seus derivados, bem como dos alimentos, no mercado internacional, alavancados pela desvalorização cambial. Nesse momento, a demanda estava mais do que retraída.  Depois, quando houve a queda da inflação e meses de deflaçāo, provocados pela queda nos preços internacionais do petróleo e das commodities, no segundo semestre de 2022, o Banco Central manteve os juros em patamares estratosféricos alegando que o "núcleo da inflação estava alto". Em outras palavras, a autoridade monetária criou a "teoria da deflaçāo inflacionária", quando os índices de inflação negativos de julho a outubro de 2022 foram a prova mais concreta de que não havia nenhuma pressão de demanda. Àquela época, mediante a queda dos custos, os agentes econômicos optaram por reduzir preços e aumentar a oferta, provocando deflação, e não em aumentar margens unitárias de lucro, que é o que ocorreria se houvesse pressão de demanda. 

 Parece que nosso Banco Central adotou modelinhos matemáticos de dinâmica da inflação com expectativas adaptativas que não guardam absolutamente nenhuma correlação com a economia real, tanto porque as simplificações dos modelos são sempre draconianas diante do número virtualmente infinito de variáveis da economia real quanto porque, pelas atas do COPOM e pelo discurso do presidente da instituição, estão adotando nos modelos premissas completamente equivocadas. 

Falta conexão do Banco Central com os grandes formadores de preço. Se fizesse isso, descobriria, por exemplo, que a  Americanas, em seu pedido de recuperação judicial, argumentou que a demanda estava reduzida e que mesmo assim foi obrigada a aumentar preços por pressão de custos, elencando entre eles OS JUROS! Que elevaram os custos financeiros dela e de fornecedores. No final das contas, depois de criar a inacreditável "teoria da deflaçāo inflacionária", o nosso Banco Central, desconectado da realidade, conseguiu criar os juros inflacionários!